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Dentes moles não mastigam pedras : Arte Sem Concessões

Manoel Gonçalves, o Manogon, há tempos brinda com o seu talento os saraus e teatros de São Paulo. É um multiartista: ator, programador visual, dramaturgo e poeta. Um grande poeta que se revela neste livro “Dentes moles não mastigam pedras”.

A maioria dos poemas é calcada em temas do cotidiano e das notícias diárias. Alguns versos são ainda apresentados com grande impacto visual além da força bruta da palavra que busca desnudar os fatos e colocar-nos diante de questionamentos e perplexidades.  Os versos tecem com vagar uma rede invisível, mas real, palpável, construída através de palavras a expressar ideias claras, sonhos e também esperanças. Há no poeta Manogon a determinação da busca da verdade, num tempo de superficialidade, mentiras, explosão de fake News, enfim elementos vários feitos para o consumo imediato, para a não reflexão, para a exacerbação das imagens e de individualização extrema, pois os muitos contatos revelam-se frágeis e inconsistentes.

Já a rede que o poeta tece vai contra essa corrente dominante, desafina o coro dos contentes, desconcerta, faz pensar, busca tecer um mundo diferente. Ele faz, portanto o que o verdadeiro artista precisa fazer: encara o real sem concessões. Entende o quanto é ilusória a paz num mundo em guerra, o quanto é frágil a liberdade, num tempo sitiado, onde a democracia “é parida com cólera, fome e gemido”. Nasce rota, maltrapilha e surrada. E onde o povo rima com borracha, bota, pau, pólvora, tiro e vermelho.

Entretanto, na dureza desse cotidiano aflora a ternura ao falar das meninas pobres, das famílias que vivem sob a sombra pesada da injustiça, das crianças a quem, diante do pesadelo da realidade, só resta dormir e quem sabe sonhar.  Aborda também outros males de nossa época, como o fanatismo religioso e a intolerância fascista.

Ao final, apresenta ainda três textos em prosa. Um monólogo dramático sobre a trágica relação de uma mãe pobre e seu filho e duas narrativas, à feição de contos. Numa delas, narra as vicissitudes de uma mulher sem nome, jogada como dejeto na paisagem urbana, compondo o exército de moradores de rua “grafites expostos ao relento”. A última é o drama doméstico de Gilda, onde ele expõe de forma crua a condição da mulher em nossa sociedade.

Num tempo de tantas publicações, Manogon surpreende, pois faz a diferença. É preciso lê-lo sem falta.

Preço R$ 35,00

 

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