Apresentamos num único volume a junção de três histórias que Oswaldo Higa publicou originalmente em…
SEOL ou a Poesia do corpo
Mal sabemos o que pode um corpo. Não me refiro ao que pode o corpo físico, atlético com seus recordes mensuráveis, nem ao corpo-cérebro com sua ciência, religião e outras crenças, muito menos ao corpo-consciência e sua busca insana e inútil por verdade.
Não sabemos o que pode o corpo sem órgãos de Artaud-Deleuze, o corpo maquínico dos fluxos e dos desejos sem falta de Guattari. E para nos guiar na busca desenfreada das virtualidades do corpo, está sempre a poesia, onde não poderia estar outra coisa. Então, não temos mais o corpo prisão do espírito ou corpo biológico perecível. Temos o corpo aberto no universo infinito.
Nem toda poesia é assim, nem precisa ser. Mas a poesia que agora nos é apresentada por Carlos Moreira é outra coisa, constitui novas possibilidades para o corpo: o corpo exangue e suicida, o corpo torturado, o corpo aprisionado pelas máquinas de capturas sociais ou do capitalismo, o corpo docilizado sem rebeldia, o corpo empresário de si, hipotecando o presente: “o progresso é o futuro do futuro / eles calculam e explodem o presente sem parar”.
Porém, ela também nos mostra outros corpos: é na poesia que o corpo traça linhas que fogem, minorias que se rebelam, tempo que se contrai, espaço que realiza sua duração. A poesia aqui é um sonoro Não à idealização da consciência, e sobretudo, do corpo. São corpos outros que se misturam ao corpo-linguagem da poesia, poemas que perambulam, sob escombros, em busca da fresta de luz.
Versos que criam fendas e fazem jorrar o sol. A linguagem da poesia produz no ser a potência de existir para além da identidade, da representação e das delimitações do corpo. Estamos diante de uma poesia que transborda, que passe além da terceira margem. No acontecimento em si ela cria uma outra margem que rasura fronteira e contenção. A poesia que nos é apresentada aqui, está visceralmente como um nervo exposto, cabe-nos tocá-la com o cuidado para criarmos juntos, outros virtuais de nós, multiplicando-nos em corpos, como a linguagem poética é capaz de fazer.
Prof. Dr. Marcos Aurelio Marques
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